segunda-feira, 13 de maio de 2013

Eu me chamo "Ninguém"

"Ninguém" é meu nome. Estou só... muito só... Você nem imagina o tamanho da minha solidão... Estou na rua. Os carros passam, os homens passam e a vida passa... Não festejo dia das mães, porque meu nome é "Ninguém". Se você, que me vê agora, soubesse o que sinto, talvez não me olhasse com esse temor, como se eu fosse arrebatar-lhe a vida. Sabe quando alguém está no escuro e não vê a luz? Sabe quando não se tem um plano, um sonho? Então, sou eu: "Ninguém!" 
Estou com fome, frio, sede, não tenho o que vestir, nem calçar...
Você me vê, mas não me enxerga. Sei que talvez tenha saído com seus filhos hoje e tudo foi tão bonito... Eu também queria fazer isso. Mas eu perdi os meus ... perdi todos os meus sonhos... perdi minha vida... 

De verdade, juro que não queria estar assim... O esforço que tenho feito, para não ser "Ninguém" é doloroso e, por isso, não consigo atravessar a parede de aço que me rouba a razão.
Hoje, mais do que ninguém, eu não queria ser "Ninguém"! Quero o meu nome de volta, os sonhos simples , a minha vida, os planos... Eu quero ter para onde ir, mas um lugar para voltar. Ter com quem sair e alguém para abraçar, para conversar, para rir. Só isso!
Sei que lhe ensinaram a ter medo de quem se chama "Ninguém". Portanto, não estranho que não me enxergue. Você não tem culpa.
Não sei como será amanhã... O cansaço é grande ... tudo é cinzento para mim. Até houve um tempo em que eu via algumas cores. Mas agora não.
No céu, parece haver paz... Eu queria estar no céu... ir para o céu... O céu é azul, durante o dia; à noite, é escuro, mas cheio de estrelas. Cada estrela é uma lágrima, porque são muitas as lágrimas...
Eu preciso caminhar, preciso ir não sei pra onde... Tem um vazio enorme aqui, no meu peito, na minha alma... Eu não sei onde está minha mãe, nem onde estão meus filhos... Uma dor, é o que sinto. Mas não uma dor qualquer. É gigante... ela me devora o espírito, rasga o meu peito...
Não suporto mais... é muito maior do que a vontade de mudar... Você pode me ajudar? Eu me chamo "Ninguém"!

Bernardete Ribeiro - 13/05/2013


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