terça-feira, 8 de novembro de 2011

Visíveis e Invisíveis



Alguns nascem e do hospital seguem para casa; outros, ficam nas ruas.
Os que ficam em casa nem sempre ficam lá, porque, ter um lugar para viver, nem sempre significa acolhimento. E todos sabem os motivos de tantas crianças e jovens preferirem as ruas.
Quando a idade de ir para a escola chega, muitos vão para lá. No entanto, desses muitos, são poucos os que ficam e terminam os estudos, como de fato deveriam.
Alguns têm problemas seriíssimos de conflitos familiares e sociais. Por isso, o que eles buscam na escola -essa parcela- não encontram lá. Então, começam os problemas com colegas de sala, professores e direção.
A escola, desnorteada, busca soluções imediatistas, permissivas, às vezes,até abusivas, na tentativa de minimizar ou esconder a realidade dos fatos. E assim, vai colocando para fora dos muros escolares, indivíduos desumanos, violentos, completamente avessos às regras sociais. Como não podem conviver com as regras, misturam-se a grupos que passaram pelo mesmo processo e, portanto, possuem o mesmo comportamento.
Esses grupos vão se fortalecendo à medida que o poder público permite ou prefere não enxergá-los. E pior que isso, é saber que os que deveriam estar ao lado da Justiça, se corrompem, porque se tornam provedores daqueles que podem tirar a vida de qualquer pessoa, seja ela importante ou não, pois o que eles entendem é a linguagem da violência, do desamor e do desapego total, principalmente em relação à vida alheia.
Certamente, esses indivíduos que nada ou quase nada produziram na escola não agem sozinhos. Por trás dos rostos marginalizados, estão os provedores, muitas vezes dentro de um carro federal, estadual, municipal ou até sentados em cadeiras da "justiça".
Um governo que espera, debilmente, a morte de uma juíza, que permite que um parlamentar saia do país, por ter sido ameaçado, mais que uma dezena de vezes, e vê a morte de um profissional, em pleno exercício, não tem moral para acabar com esse "front". São tragédias anunciadas -velho clichê- e acontecem porque assim o desejam.
Patricia, Gelson, Tim Lopes e outros fazem parte da lista dos visíveis. Mas o indivíduo, que, nesse momento, volta para casa, eu, você, nossos filhos e amigos somos invisíveis.
Postei esse texto aqui porque falamos e discutimos sobre direitos humanos. No entanto, esquecemo-nos sempre dos deveres. Talvez, além de outras importantes coisas, esse nosso esquecimento, lá atrás, na mais tenra idade, esteja contribuindo para criarmos os "monstros" que nos surpreendem em qualquer esquina.

(Bernardete Ribeiro- 07/11/2011)

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