Des-Aprender
Aprender é um verbo que quase termina junto com a vida.
A gente aprende desde que nasce. Quando anoitece, a gente
des-aprende. E como dói para quem desaprende e para quem, nesses momentos, tenta ensinar.
É quase um exercício inútil querer ensinar a quem já não está mais tão
presente.
A gente aprende, desde que nasce, muitas coisas: a rir e a chorar; a
aparecer e a se esconder; a partir e a voltar; a amar e a odiar.
A gente aprende que não se deve depender dos outros; que cada um deve
construir sua história e que essa história deve ser perfeita, com um belo
início, um meio confortante e um fim leve, feliz.
A gente aprende a não xingar; a não desrespeitar os mais velhos; a amar a natureza, em sua plenitude; a não se
deixar iludir por aquilo que somente parece ser real; a falar sempre a verdade
e a se desculpar, por erros ou pequenas bobagens cometidas.
A gente aprende que pai e mãe são as pessoas mais importantes de nossas
vidas; que nossos irmãos são o elo mais
forte que temos com nosso semelhante; que nossos avós são muito mais que avós, porque, apesar de já
terem vivido e trabalhado o suficiente, ainda assim, fazem pelos netos aquilo que os pais
não podem ou não querem fazer.
A gente aprende que não deve transar antes da hora; que sexo seguro é com preservativo; que
doenças como a AIDS não ocorrem só com o nosso vizinho; aprende toda a
importância da higiene, em relação a nós e aos outros.
A gente aprende que a morte existe e sofre muito quando ela chega;
que mentir é feio; que "pular a cerca", numa relação, é
quase um "crime hediondo"; que iludir as pessoas é , no mínimo, cruel.
A gente aprende a andar de bicicleta; a dirigir automóvel; a voar de asa delta e
a andar por caminhos, que nem sempre são os mais seguros.
A gente aprende que a beleza não é muito importante; que não se deve julgar ninguém pelas
aparências, embora as aparências, muitas vezes,
enganem.
A gente aprende a fazer dietas;
a consumir menos; a não poluir o Planeta; a não desperdiçar água, porque
é um recurso finito e muitos sequer têm uma gota para prová-la. Aprende também que a água empoçada pode nos roubar a vida.
A gente aprende que é preciso compartilhar; que
existem pessoas nas ruas, vivendo de forma degradante, na mais rude miséria; que há pivetes em
qualquer esquina e que dirigir em alta velocidade é um grave risco, com ou sem
bebida.
A gente aprende a nossa língua e outras também; aprende a conviver harmoniosamente com todos os povos e com as diferenças; que cada um tem suas crenças e cultura; que Deus é único e soberano; que o pecado
existe e ele pode ser até mortal; que
devemos dizer bom dia, boa tarde, boa
noite e muito obrigado.
A gente aprende a doar sangue e órgãos e que essa doação é um ato humano e solidário; que cuidar dos idosos é uma obrigação, mas
também respeito e amor; que cuidar da própria
saúde é o passo essencial para prevenir
doenças, muitas vezes devastadoras.
A gente aprende a namorar; a noivar; a casar; a se separar... A gente aprende a se
separar, mesmo sentindo dor, ódio, saudade, repulsa e, às vezes, até amor...
A gente aprende a fazer amigos e a perdê-los também.
A gente aprende a dizer sim e a dizer não
A gente aprende o mal e o bem.
A gente aprende que um dia será muito diferente para cada um de nós. E é
, portanto, que, nesse dia, a gente, tristemente, des-aprende!
Bernardete Ribeiro – 26/04/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário