domingo, 15 de agosto de 2010

De meu Pai


E eu que hoje estou mais recluso
que outrora,
construí a solidão,
no amanhecer da minha
juventude.
Penso, então: E agora?
Meus olhos já não veem
o prazer nem a alegria
e viver tem sido pesado,
sofrido, porque não dependo
mais de mim.
No espelho,
percebo o medo da partida,
porém, ficar pra quê,
se o que sinto não é vida?
Meus dias são o fardo
de uma existência,
cuja alma, ferida,
procura, com desespero,
um rumo que não encontro,
porque meu tempo
tem nome de incerteza,
e só encontro a paz,
quando a noite o silêncio
me traz.
Então, adormeço e esqueço
que virei um menino...
um menino travesso,
que tem muitos pais
a lhe dizerem que erra
e que precisa aprender...
aprender... aprender...
Eles não compreendem!
Eu é que sei como me sinto
e apenas tenho vontade
de lhes dizer:
"Deixai-me em paz,
porque só assim agora sei
viver!"

(Bernardete Ribeiro - Para meu pai, Isidro Ribeiro, 85, que hoje depende de nós, que nem sempre entendemos os limites da idade e lhe cobramos um comportamento que não mais possui. Sofremos por vê-lo assim, mas, certamente, o sofrer dele é maior que o nosso! Ele desaprende, a cada dia, um pouquinho. E nós, o que estamos fazendo com essa lição? 17/08/2010)

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