quinta-feira, 15 de abril de 2010

Da Brisa

Ah, essa brisa que em meu rosto bate
refresca a minha alma
e ainda avisa que a dor é passageira.
Mas eu que não tenho crenças
me entrego a dolorosos pensamentos
e vivo com eles
conspirando contra mim
tecendo meu destino.

Eu preciso respirar
sentir o cheiro da vida
o perfume do céu
e o encanto das flores.

Eu preciso do outono nas ruas
do inverno em meu quarto
da lua embalando meus olhos
do verão de minha pele
da primavera florida
da Bela Adormecida
do calor e do frio
de ler O pequeno Príncipe
e de conhecer uma flor.

Eu preciso pintar as unhas
de vermelho
e o cabelo de avelã
passar batom
com gosto de chocolate
mascar chiclete
com sabor de hortelã.

Eu preciso tomar
café com leite
comer amendoim
beber um grapete
dormir de camiseta
cheirar jasmim
escutar a Ivete
tomar nescau
jogar-me alfazema
comer carambola
cajá-manga
sapoti
e, à noite, tomar mingau
andar de bicicleta
e sair por aí.

Eu preciso brincar
de pera uva ou maçã
pegar ônibus
ir à praia
ficar na praia...
Contemplar o mistério
do horizonte
ouvir o mar
cheirar o mar...
espreitar um céu...
um céu cheio de estrelas.

Eu preciso ouvir Vinícius
e ir a Itapoã...
passar uma tarde
em Itapoã.

Eu preciso cantar o Chico
ouvir o Elvis
sonhar com o Elvis...
ler Machado
e também gibis...

Eu preciso encontar
Dom Quixote
vencer os moinhos
e depois de cansado
pisar na relva
orvalhar meus pés
e dormir à sombra
de uma palmeira.

Eu preciso usar um velho jeans
calçar o tênis lavado
fazer compras
e sair no sábado
encontrar amigos
falar asneiras
esquecer
as segundas-feiras.

Eu preciso acreditar
que uma brisa
não é apenas uma brisa
para quem a sente
pede um casaco
e contempla o céu...
um céu de outono
e implora que ela fique,
ali, purificando a alma
a minha alma
que de tão partida
quer o silêncio
para o encontro
de mim.

(Bernardete Ribeiro - 2009)

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